Livros desatualizados ou leitor desinformado?

Uma das características que tem chamado atenção nesses pouco mais de 100 dias do terceiro mandato do presidente Luiz Inacio Lula da Silva é a maneira contundente com que tem se referido àqueles que, mais ou menos diretamente, ele considera opositores a ele, ao seu governo ou às suas ideias.

As referências críticas podem ser a pessoas, como é o caso do ex-juiz Sergio Moro, a instituições, como o Banco Central independente, ou mesmo a determinados grupos, como, por exemplo, os economistas, com exceção, obviamente, daqueles a ele alinhados como Aloizio Mercadante.

Em suas frequentes críticas aos economistas, foi, no mínimo, surpreendente, a crítica aos livros de economia, que, na opinião do presidente, estão desatualizados.

Tal opinião me causou espécie por algumas razões:

A primeira é que o autor da crítica é alguém que já declarou reiteradas vezes que não lê livros, por não gostar e ter preguiça. Pelas suas declarações recentes, a exceção foi o período em que esteve encarcerado em Curitiba, quando aproveitou para ler alguns livros. Como pode alguém que não lê saber se os livros disponíveis estão ou não desatualizados ou superados?

A segunda diz respeito ao caráter genérico da afirmação, o que supõe estarem todos os livros de economia desatualizados, independentemente de serem de teoria econômica, macroeconomia, microeconomia, economia do desenvolvimento, econometria ou outra área qualquer das ciências econômicas.

A terceira refere-se ao fato de que a afirmação dá a entender que todos os livros de economia defendem as mesmas coisas, como se não existisse divergência entre os diversos autores por conta de diferenças ideológicas, metodológicas ou de outra natureza qualquer.

Por último, a ciência econômica é dinâmica e, como tal, deve acompanhar as mudanças que ocorrem na realidade. Sendo assim, é natural que algumas de suas teorias se tornem obsoletas, exigindo constante atualização. Também é natural que surjam novas tecnologias ou novas ferramentas que tornem possível desvendar aspectos antes inacessíveis. Não é por outra razão que muitos livros são relançados em edições revistas e atualizadas.

O problema é que para acompanhar essa constante renovação é imprescindível cultivar o hábito da leitura!