Números reveladores

“Para aumentar a performance de um país, é preciso investir na base, pensar em políticas e estratégias para que os mais vulneráveis aprendam. Não adianta fazer com que os poucos que estão no topo melhorem.”

Ricardo Henriques

(Superintendente do Instituto Unibanco)

No dia 3 de dezembro, vieram a público revelações relevantes sobre dois aspectos de grande interesse para os brasileiros.

Uma dessas revelações refere-se ao desempenho da economia brasileira. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento do produto interno bruto (PIB) no terceiro semestre do ano foi de 0,6% e de 1,2% na comparação com o ano de 2018. Tais números foram superiores à maior parte das expectativas e indicam que o País continua apresentando alguma recuperação, insuficiente, porém, até para neutralizar o péssimo desempenho dos anos de 2015 e 2016, em que houve crescimento negativo de 3,5% em cada um deles.  De qualquer maneira, trata-se de um dado positivo e renova as esperanças de um crescimento mais robusto em 2020, cuja estimativa, atualmente, é de 2 a 2,3%.

Outra revelação diz respeito aos resultados da principal avaliação internacional de educação, conhecida como PISA. Realizada a cada três anos pela Organização para o Crescimento e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o exame compara o desempenho de estudantes de 15 anos de 79 países em três áreas do conhecimento: leitura, matemática e ciências. Embora o Brasil tenha apresentado ligeira melhora em relação à avaliação anterior, os dados estão longe de entusiasmar e retratam indicadores que merecem especial atenção, não apenas das autoridades, mas de qualquer pessoa interessada num futuro melhor para o País.

Das conclusões que os resultados do PISA permitem tirar, três me parecem essenciais: (i) repete-se na educação o mesmo quadro de acentuada desigualdade existente no Brasil como um todo, uma vez que o desempenho dos estudantes das regiões sul, sudeste e centro-oeste é muito superior ao dos estudantes das regiões norte e nordeste; (ii) existe também acentuada desigualdade entre o desempenho dos estudantes das escolas privadas e públicas, observando-se, inclusive, que os estudantes de escolas privadas de elite conseguem desempenho equivalente ao de estudantes de países que ostentam as primeiras colocações no ranking; (iii) quando se compara o desempenho do Brasil com o de países que lideram o ranking, percebe-se claramente a diferença com que a educação é tratada, em especial nos anos iniciais, compreendendo a educação infantil e o ensino fundamental, quando o retorno do investimento é mais elevado, como mostram as pesquisas de inúmeros especialistas, incluindo James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2000. Deficiências adquiridas nessas etapas tendem a se reproduzir por toda a vida.

Considerando as revelações do desempenho da economia, representado pelo crescimento do PIB, e do desempenho da educação, representado pelos resultados do PISA, fico com a convicção de que só teremos um desempenho consistente e sustentável do crescimento econômico no longo prazo se melhorarmos significativamente nosso desempenho na educação. Sem isso, estamos condenados a continuar com níveis de crescimento oscilantes e inferiores às necessidades de um país que permanece com níveis alarmantes de desigualdade social e regional.

Referências bibliográficas e webgráficas

CAFARDO, Renata; PALHARES, Isabela. Escolas privadas de elite do Brasil superam Finlândia no Pisa; rede pública vai pior do que Peru. O Estado de S. Paulo, 4 de dezembro de 2019. Disponível em https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,escolas-privadas-de-elite-do-brasil-superam-finlandia-no-pisa-rede-publica-vai-pior-do-que-peru,70003112767.

WEINBERG, Monica. James Heckman e a importância da educação infantil. Veja, 22 de setembro de 2017. Disponível em https://veja.abril.com.br/revista-veja/james-heckman-nobel-desafios-primeira-infancia/.