De um lado a Netflix e a Porta dos Fundos e de outro os cristãos e a porta da frente

 Eduardo José Monteiro da Costa[1]

Em uma sociedade plural e democrática aprende-se como regra básica de convivência o respeito para com aquilo que é valioso para as pessoas. E se existe algo valioso para alguém, certamente, a sua fé e a sua religião estão neste campo. Entretanto, não é de agora que um tipo de humor ganha espaço nas mídias, é um humor eivado de preconceitos, intolerância, que confunde ironia com grosseria. Já vimos vários exemplos disso, sobretudo, com essa nova geração de humoristas.

Tivemos oportunidade de assistir recentemente na Netflix, com o Porta dos Fundos, a um “Especial de Natal”, estrelado por Fábio Porchat e Gregório Duvivier, que vai além da sátira e da ironia, pois atinge os valores religiosos de muitos cristãos (católicos e evangélicos). Não é à toa que Carlos Vereza, respeitado ator, tornou pública uma crítica contra esse tipo de “arte” que debocha da fé cristã. Aliás, as manifestações de indignação são variadas, desde bispos, padres, pastores até mesmo de cidadãos comuns que estão se sentindo agredidos naquilo que lhe é mais valioso, a sua religiosidade.

Tornou-se rotina nas produções do Porta dos Fundos o vilipêndio aos símbolos do cristianismo. Em função disso, é crescente a mobilização nos meios cristãos, e nas igrejas, para boicotar a Netflix, por não concordarem e por não mais se disporem a financiar esse tipo de produção. Alguns dados disponíveis falam em mais de 300 mil manifestações de repúdio à empresa. Creio que esse protesto, por meio de boicote, deverá, também, se estender às marcas de produtos que usam esses “garotos propagandas” como a Sky, I Food, Cielo, EF English Live, Mabel, McDonald’s… só para citar algumas.

Por outro lado, é curioso que este fato ao mesmo tempo explicita mais uma contradição da turma do “politicamente correto”, mais uma da série “eles são uma contradição em processo”. Quando situações análogas acontecem com outro tipo de religião, e não vou especificar nenhuma aqui (todas são dignas de respeito), logo surgem as vozes da resistência gritando “é intolerância religiosa, é preconceito!”. Mas quando é com símbolos e valores cristãos a opinião muda rapidamente: “isso é arte, é humor”; “agora vão querer censurar uma manifestação artística?”.

Em uma sociedade na qual muitos manifestam indignação apenas de forma seletiva, pedem respeito, mas não respeitam, infelizmente, cresce a intolerância, o preconceito e desrespeito. O Porta dos Fundos mostrou para muitos cristãos que tem vezes que a única alternativa é a saída pela PORTA DA FRENTE da Netflix.

[1] Doutor em Economia pela Unicamp e professor da UFPA. Correio eletrônico: ejmcosta@gmail.com