Nobel de Economia contempla tema das mulheres no mercado de trabalho

 

“Estou surpresa e muito, muito feliz.”

Claudia Goldin

(ao ser informada de que

 ganhara o Prêmio Nobel)

Mostrando fina sintonia com as pautas contemporâneas, a Academia Real de Ciências da Suécia anunciou nesta segunda-feira, 9 de outubro, o nome da economista norte-americana Claudia Goldin como ganhadora do Prêmio Nobel de Economia de 2023, “por ter avançado nossa compreensão dos resultados das mulheres no mercado de trabalho”.

Terceira mulher a ser laureada com o Nobel de Economia (antes dela foram laureadas Elinor Ostrom em 2009 e Esther Duflo em 2019), Claudia Goldin tem 77 anos, nasceu em Nova York, é PhD pela Universidade de Chicago, professora da Harvard University e codiretora do Grupo de Estudos sobre Gêneros na Economia do National Bureau of Economic Research (NBER).

O Nobel concedido a Claudia Goldin é resultante de suas pesquisas em que combina duas áreas da teoria econômica, a história econômica e a economia do trabalho. Goldin analisou 200 anos de participação das mulheres no mercado de trabalho, mostrando que, apesar do crescimento econômico contínuo, os ganhos das mulheres não se equipararam aos dos homens e a diferença ainda persiste, mesmo que as mulheres tenham alcançado níveis mais altos de educação do que os homens.

Segundo Randi Hjalmarsson, membro do comitê do prêmio, “ela não apenas explica a origem do hiato entre homens e mulheres, mas também como ele mudou ao longo do tempo e como varia de acordo com o estágio de desenvolvimento, não havendo, portanto, uma medida única”.

Seu livro Career and Family: Women’s Century-Long Journey toward Equality, lançado em 2021 pela Princeton University Press, abrange um período de 120 anos e mostra como as aspirações pessoais e profissionais das mulheres evoluíram ao longo do tempo. Baseada em um vasto levantamento de dados, a obra levanta pontos essenciais para o entendimento da desigualdade de gênero no mercado de trabalho.

A evolução descrita por Goldin destaca que até o século XVIII, as mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho por conta da própria dinâmica social: elas trabalhavam dentro das propriedades da família em uma sociedade agrária. No entanto, no início do século XIX, com a transição para uma sociedade industrial – que levou ao trabalho fora de casa -, o percentual de mulheres casadas no mercado acusou uma acentuada redução. O cenário mudou novamente no começo do século XX, quando o setor de serviços ganhou força e chamou, mais uma vez, as mulheres ao mercado de trabalho. Também foi nesse período que o nível de educação das mulheres passou a aumentar, ultrapassando, inclusive, os níveis de escolaridade dos homens em países desenvolvidos.

Além disso, Claudia Goldin demonstrou que o acesso à pílula anticoncepcional teve um importante papel para a aceleração dessa participação, já que ofereceu uma maior possibilidade para planejamento de vida e de carreira.

Porém, mesmo com o método contraceptivo oferecendo a oportunidade de planejamento familiar, a maternidade ainda tem o poder de reforçar o gender gap. Isso porque as dinâmicas ainda presentes no mercado de trabalho tendem a dificultar a ascensão profissional das mães.

Em seu livro, Goldin alerta para a dificuldade que casais com filhos têm para conciliar casa e trabalho, principalmente no caso de carreiras de alto nível, que requerem grandes investimentos iniciais. Logo, é fundamental que ocorra uma divisão de tarefas equânime entre homens e mulheres.

Por ocasião do lançamento do livro, Goldin disse: “As aspirações e conquistas das mulheres universitárias mudaram muito ao longo do século passado, com o aumento da renda, a mecanização do lar e melhorias tecnológicas no controle da fertilidade e nos métodos de reprodução assistida. Mas a estrutura do trabalho e a persistência das normas sociais, por mais fracas que tenham se tornado, limitaram o sucesso das mulheres universitárias na carreira e na família”.

Goldin também chamou atenção para questões mais subjetivas que deixam a mulher com filhos em desvantagem. Por exemplo, um funcionário que pode trabalhar a qualquer dia e horário (noite, fins de semana ou feriados) acaba sendo mais recompensado do que mulheres que não têm essa flexibilidade por terem que cuidar da família.

Vale a pena destacar que pesquisas na mesma linha da desenvolvida por Claudia Goldin têm sido realizadas também no Brasil. Nesse sentido, encerro o artigo mencionando três pesquisadores com trabalhos nesse campo:

  1. A economista Janaina Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, que desenvolve atualmente pesquisas na área de mercado de trabalho, educação e desigualdades sociais;
  1. A economista Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa, técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, professora da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC-RJ e membro do Grupo de Estudos em Economia da Família e do Gênero (GeFaM);
  1. O professor José Pastore, decano dos pesquisadores sobre trabalho e emprego, que recentemente publicou o artigo “Quando a proteção desprotege as mulheres”, no qual observa que não raras vezes os legisladores, com a boa intenção de proteger as mulheres e conquistar o seu voto, acabam criando tantas dificuldades que o resultado final é uma verdadeira desproteção.