Guerra de narrativas

 “Cada vez mais, somos um País dividido em dois lados, em duas culturas, e, mais ainda, em duas linguagens que se contrapõem com o mesmo desprezo pelos fatos.”

Bolívar Lamounier

 A divulgação da taxa do crescimento do PIB no terceiro trimestre deu origem, imediatamente, ao surgimento de comentários diametralmente opostos, evidenciando não apenas o clima de polarização reinante entre boa parte dos analistas, numa verdadeira guerra de narrativas, mas também uma clara falta de preocupação com a indicação de caminhos a seguir.

A taxa de 7,7% anunciada pelo IBGE veio abaixo da média das expectativas que apontavam para uma taxa em torno de 9%, situando o desempenho da economia brasileira num estágio intermediário[1] em comparação com o de outros países no mesmo período, como pode se ver no gráfico 1.

Gráfico 1

Os que se posicionaram favoravelmente, identificados como aliados do governo Bolsonaro, deram ênfase à capacidade de reação em plena pandemia, revertendo a tendência de queda verificada nos trimestres anteriores, na maior variação observada na comparação trimestral, como mostra o gráfico 2. Com o resultado, o País sai da recessão técnica após dois recuos nos trimestres anteriores.

Gráfico 2

Já os que se posicionaram criticamente enfatizaram a insuficiência das medidas adotadas pela equipe comandada por Paulo Guedes, criticando a tímida participação do Estado nas políticas adotadas.

Aos que procuram se posicionar de forma menos apaixonada, entre os quais eu me incluo, resta, em primeiro lugar, torcer para que as vacinas que se encontram em fase final de testes consigam bons resultados no menor espaço de tempo possível, permitindo o abandono das restrições em curso em vários países do mundo e a volta à normalidade no comportamento dos agentes econômicos.

Com relação ao Brasil, fica a expectativa quanto ao desempenho da economia no quarto trimestre e, mais do que isso, quanto à capacidade de reação em 2021 e nos anos seguintes, considerando o cenário difícil deixado pelo ano de 2020, com destaque para a questão fiscal, o elevado desemprego e a crescente pressão inflacionária.

Espero que tenhamos: (i) a retomada da agenda das reformas estruturantes cujo andamento foi interrompido pela pandemia do Covid-19, como a administrativa e a tributária; (ii) o avanço do programa de privatizações; e (iii) a efetivação de ações aprovadas na Lei de Liberdade Econômica com o objetivo de reduzir os custos de transação e aumentar a competitividade de nossas empresas.

A dúvida reside na capacidade de articulação do governo para viabilizar politicamente tal conjunto de iniciativas.

 

Referências bibliográficas e webgráficas

DESEMPENHO do PIB do Brasil no 3° tri fica em 25° em ranking de 51 países. Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/12/03/desempenho-do-pib-do-brasil-no-3o-tri-fica-em-25o-em-ranking-de-51-paises.ghtml.

LAMOUNIER, Bolívar. Guerra de narrativas. Revista IstoÉ, 18 de agosto de 2018. Disponível em https://istoe.com.br/guerra-de-narrativas-2/.

TRIGO, Luciano. Guerra das narrativas: a crise política e a luta pelo controle do imaginário. São Paulo: Globo Livros, 2018.

[1] O desempenho do Produto Interno Bruno (PIB) brasileiro no 3º trimestre de 2020 ocupa o 25º lugar dentro de um ranking com 51 países, elaborado pela Austing Rating. A lista traz os resultados das maiores economias do mundo.