A Revolta de Atlas

 

Eiiti Sato[1]

 

Estimulado pelas observações levantadas por Sergio Moura, em seu livro intitulado “Podemos ser prósperos; se os políticos deixarem“, andei revisitando um livro antigo (1957) intitulado “A Revolta de Atlas” de autoria de Ayn Rand. O título original é “Atlas Schrugged” e foi traduzido para o português pela primeira vez com o título “Quem é John Galt?“.

Tenho a impressão de que o livro não fez muito sucesso no Brasil em grande parte por ser muito volumoso. Tem mais de mil e cem páginas ao longo dos quais a autora quis dar à obra um tom de “grande epopeia”. O tema central do livro são as dificuldades e desventuras vividas pelo empreendedor nos EUA diante de uma sociedade cuja cultura tornava-se cada vez mais “politicamente correta”. De um lado o empreendedor que quer por em prática suas ideias e, obviamente, também suas ambições, inventando novos produtos, melhorando os já existentes e investindo em novas formas de organizar a produção e batalhando para competir em um mercado exigente e de muitas opções. Nessa busca por sucesso, cria empresas, gera empregos e produz riqueza para a sociedade e, além disso, nos EUA, investe em universidades, em museus e em cultura (é o Atlas que carrega o mundo em seus ombros). De outro lado, estão os parasitas da sociedade, com sua linguagem melíflua, que se organiza em ONGs e ocupa posições importantes na máquina do Estado. Entre os temas desses parasitas, destacam-se a noção de que a busca do lucro é a mais vil e a mais mesquinha entre as ambições e objetivos que um indivíduo pode ter para si e para as organizações que comanda e, assim, o empreendedorismo (que é visto como a busca insensata por lucros) deve ser contido por “objetivos sociais” como a manutenção de empregos, o aumento dos direitos trabalhistas e a aprovação de leis contra a “competição desenfreada”. É interessante notar que a ficção construída por Ayn Rand refere-se aos EUA em meados da década de 1950.

Imagine se a autora estivesse viva e estivesse olhando para este “Brasil varonil”, com as “pérolas” politicamente corretas da Constituição de 1988 e, agora, numa época de “temas ambientais”, de promoção das “minorias” e da “igualdade social” etc. etc. provavelmente o Atlas não teria “schrugged“, mas teria mandado tudo e todos à !!#@**#”!!#.

 

Nota: “Schrug” é o gesto que as pessoas fazem “dando de ombros” para dizerem “e eu com isso?” ou “que se dane o mundo!!“.  O livro me lembra uma das observações do professor Antonio Paim que dizia que o Brasil, por razões estranhas, ao invés de prosperidade, escolheu optar pela pobreza.

 

[1] Professor da Universidade de Brasília.