Descomplicando o complicado

 Sugestão de leituras

 

“À exceção dos estudantes de engenharia e de um punhado
de outros alunos com um extenso treinamento prévio em
matemática, a maior parte dos que tentam aprender os
princípios econômicos por meio de equações e gráficos
nunca chega a incorporar aquela atitude mental específica
conhecida como ‘pensar como economista’. A maioria
se esforça tanto para entender os detalhes matemáticos que
deixa escapar o raciocínio subjacente às ideias econômicas.”

Robert H. Frank

Depois do estrondoso sucesso do livro Freakonomics, que tinha por subtítulo O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta, descobriu-se um nicho de mercado extremamente promissor e, na esteira desse nicho, vários livros foram publicados, no Brasil e no exterior, tendo como característica comum a tentativa de, em primeiro lugar, mostrar que a economia não precisa ser, necessariamente, nem uma coisa lúgubre, nem uma coisa incompreensível e, em segundo, que a economia faz parte do dia a dia de qualquer pessoa.

A primeira tentativa decorre do fato de que a economia é vista por muita gente como uma área de conhecimento extremamente complexa, dotada de um jargão próprio – o economês – e de uma fundamentação teórica repleta de gráficos e fórmulas matemáticas que a transformam em algo incompreensível para a maioria dos mortais.

A segunda, por sua vez, é em parte consequência da primeira, e se traduz na ideia, falsa, porém amplamente disseminada, de que a economia é excessivamente teórica e os ensinamentos que ela produz são de pouca aplicabilidade para as pessoas comuns. Tal ideia é reforçada por afirmações de professores de cursinho ou de publicações de orientação profissional que afirmam que quem quiser fazer carreira nas empresas privadas deve cursar administração, uma vez que os cursos de economia, além de teóricos demais, possuem acentuado viés macroeconômico, sendo, portanto, indicados apenas para quem tiver intenção de desenvolver carreira no setor público, trabalhando num ministério, numa secretaria, numa autarquia ou numa empresa estatal.

Não há dúvida de que nessa falsa informação reside parte da explicação do esvaziamento dos cursos de economia, que, depois de um boom nas décadas de 1970 e 1980, vêm assistindo a uma redução progressiva da demanda pelas vagas oferecidas pela maior parte dos cerca de 250 cursos espalhados pelo País.

Como janeiro é mês de recesso escolar e, pelo menos em tese, as pessoas têm mais tempo disponível para dedicar à leitura, aproveito para sugerir alguns livros que se inserem no nicho acima descrito, sendo, portanto, de fácil compreensão tanto para os iniciados como para os não iniciados na economia.

Superfreakonomics: o lado oculto do dia a dia – Lançado no finalzinho de 2009, é dos mesmos autores do consagrado Freakonomics, Steven Levitt e Stephen Dubner, e segue a mesma estratégia vitoriosa do “irmão mais velho”, que vendeu mais de 4 milhões de exemplares nos 35 idiomas em que foi traduzido. Procurando fugir à visão convencional, os autores abordam temas que dificilmente ocupariam o tempo e a cabeça dos economistas tradicionais, entre os quais Por que prostituta de rua é como Papai-Noel de shoppping? (Capítulo 1), O que Al Gore e o Monte Pinatubo têm em comum? (Capítulo 5) ou Macaco também é gente (Epílogo). Apesar de uma sensação de déjà vu (já vi isso em algum lugar), presente também nos outros livros, continua sendo uma leitura deliciosa.

O economista clandestino – O autor, Tim Harford, que trabalha atualmente no Banco Mundial e assina uma coluna no jornal Financial Times, procura mostrar o mundo como os economistas o vêem, revelando que os acontecimentos diários envolvem disputas de poder, jogos de negociação e batalhas de inteligência. Dotado de inegável elegância e simplicidade para escrever, o autor aborda conceitos complexos da teoria econômica, entre os quais escassez de recursos, falhas de mercado, informação privilegiada, preços irreais e teoria dos jogos de forma agradável e compreensível.

Descubra o seu Economista Interior: use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista – Objeto de artigo anterior nestas mesmas Iscas Intelectuais (http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=12521), o livro de autoria de Tyler Cowen, professor de economia na George Mason University e autor daquele que é considerado o principal blog de economia em todo o mundo (www.marginalrevolution.com), procura mostrar como qualquer pessoa – independentemente de ser possuidora de um diploma de bacharel em ciências econômicas – age como economista no dia a dia, fazendo escolhas de como e onde aplicar seu dinheiro ou seu tempo (fatores escassos) frente às infinitas possibilidades, tangíveis e intangíveis, que despertam seu interesse e seu desejo.

O naturalista da economia: em busca de explicação para os enigmas do dia a dia – Robert H. Frank, autor do livro, é professor de administração e de economia da Johnson Graduate School of Management, da Cornell University. Sua inspiração para escrever o livro veio dos ensaios espirituosos de seus alunos, dos quais extraiu as perguntas que compõem os onze capítulos do texto. Esses ensaios, por sua vez, retratam a metodologia de ensino adotada por Robert Frank, que procura resgatar a forma narrativa baseada nos princípios da economia, como alternativa aos cursos que “afogam os estudantes em equações e gráficos”. Afinal, como bem observa o autor, “o formalismo matemático foi uma fonte imensamente importante de progresso intelectual na economia, mas não se mostrou um veículo eficaz para apresentar esse tema aos neófitos”.

Economia sem truques: o mundo a partir das escolhas de cada um – Escrito por dois brasileiros, um – Carlos Eduardo Soares Gonçalves – pesquisador e professor co curso de economia da FEA-USP, e outro – Bernardo Guimarães – pesquisador e professor de economia na London School of Economics, o livro, que a exemplo dos demais mencionados neste artigo, tenta ensinar economia a partir de seus princípios mais básicos,  é dividido em duas partes. Na primeira, os autores lançam as bases teóricas do pensamento econômico moderno; na segunda, dedicam-se a aplicar esse arcabouço de raciocínio ao entendimento de temas particularmente caros ao país, como educação comércio, tributação e mercados de crédito. Dos vinte capítulos do livro, os doze primeiros tratam dos fundamentos da economia, enquanto os oito restantes se referem às suas aplicações. Tendo por autores dois economistas brasileiros, a grande diferença em relação aos outros livros aqui comentados reside na abordagem de assuntos que estão muito mais próximos da nossa própria realidade. E eles não economizaram veneno na crítica daquilo que chamam de “truques de economágica, a que o Brasil tem constantemente recorrido para tentar resolver seus problemas, implementando políticas públicas que tentam remediá-los, sem tocar em suas causas fundamentais”.

Sob a lupa do economista: uma análise econômica sobre bruxaria, futebol, terrorismo, bilheterias de cinema e outros temas inusitados – Estimulado pelo sucesso do livro Economia sem truques, um de seus autores, Carlos Eduardo Soares Gonçalves, uniu-se desta vez a outro colega da FEA-USP, Mauro Rodrigues, para oferecer ao público outro livro com as mesmas características dos demais, valendo-se, neste caso, de textos mais curtos, o que pode tornar ainda mais agradável a leitura de seus capítulos. O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, referiu-se ao livro como “um achado, em que os autores, de forma clara e não raramente divertida, traduzem conceitos fundamentais da teoria econômica e os insights mais recentes da pesquisa acadêmica”. Prefaciado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, o livro está estruturado de uma maneira em que seus capítulos podem ser lidos em qualquer ordem, de acordo com o maior ou menor interesse de cada leitor.

Esperando que o amigo internauta siga minhas recomendações, desejo a todos “uma boa leitura”.

Referências e indicações bibliográficas

COWEN, Tyler. Descubra o Seu Economista Interior: use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista. Tradução de Cassio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Record, 2009.

DUBNER, Stephen J., e LEVITT, Steven D. Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta: as revelações de um economista original e politicamente incorreto. Tradução de Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

______________ Superfreakonomics: o lado oculto do dia a dia. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

FRANK, Robert H. O naturalista da economia: em busca de explicação para os enigmas do dia a dia. Tradução de Doralice Lima. Rio de Janeiro: Best Business, 2009.

GONÇALVES, Carlos Eduardo S. e GUIMARÃES, Bernardo. Economia sem truques: o mundo a partir das escolhas de cada um. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

GONÇALVES, Carlos Eduardo S. e RODRIGUES, Mauro. Sob a lupa do economista: uma análise econômica sobre bruxaria, futebol, terrorismo, bilheterias de cinema e outros temas inusitados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

HARFORD, Tim. O economista clandestino. Tradução de Fernando Carneiro. Rio de Janeiro: Record, 2007.

Referências e indicações webgráficas

MACHADO, Luiz Alberto. Leitura imperdível – Freakonomics. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3631.

______________ Descubra o seu economista interior – Todos são economistas… inclusive você. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=12521.