A crise chegou à 25 de Março

 Baixa confiança no fim do 1º semestre

 rua-25-de-marco

 

“O problema da Dilma é que quem votou nela não está satisfeito. E quem não votou está mais insatisfeito ainda.”

Antonio Delfim Netto

Tem sido cada vez mais comum depararmo-nos com manchetes e notícias nos diferentes meios de comunicação focalizando a crise econômica a partir de suas várias formas de manifestação, bem como seus principais efeitos.

Dois dos fatores mais destacados são o fraco nível de atividade e a elevação da inflação. Relativamente ao primeiro, governo e mercado alteraram sucessivas vezes suas previsões desde o início do ano, havendo concordância neste fim de semestre de que o Brasil terá um crescimento econômico negativo em 2015 – a dúvida reside apenas sobre o tamanho desse desempenho negativo. Já no que se refere à inflação, ocorreu o mesmo fenômeno, só que no sentido inverso, com governo e mercado revendo para cima repetidas vezes suas projeções, chegando ao final de junho com o reconhecimento de que a inflação anual chegará aos 9%, que é o dobro da meta (4,5%) e consideravelmente acima do teto superior da mesma que é de 6,5%.

Há diversas maneiras de observar o agravamento da situação. Aumenta o número de pessoas desempregadas, cai consideravelmente o movimento do comércio em quase todos os segmentos e percebe-se crescente perda de confiança das pessoas, que passam a adotar uma postura cautelosa em suas decisões, o que explica não apenas a queda nos níveis do comércio, mas também nos serviços. Nesse sentido, cinemas, teatros, shows e restaurantes, com raras exceções, recebem um volume sensivelmente reduzido de frequentadores.

Se esses efeitos escapam aos olhos de muita gente, em especial dos que são menos afeitos às questões econômicas, há um indicador relevante da situação difícil que estamos atravessando que é fácil perceber, qual seja, a multiplicação de imóveis desocupados com placas de “aluga-se” ou “vende-se”.

Desde o final do ano passado era possível observar esse aspecto em shoppings e alguns corredores importantes da cidade de São Paulo. Nos primeiros meses deste ano, esse cenário foi chegando a outros bairros e regiões. Agora a situação generalizou-se, atingindo até centros comerciais conhecidos por seu intenso movimento como o Bom Retiro e o Largo 13, em Santo Amaro. Até a região da famosa rua 25 de Março, que além de atrair consumidores das mais variadas procedências, tinha como uma de suas características a existência de filas de interessados por qualquer ponto comercial que fosse desocupado exibe claros sinais de desaquecimento.

Se alguém tem alguma dúvida, sugiro que preste atenção quando estiver transitando pela cidade para a enorme oferta de imóveis espalhados pelas diferentes regiões.

Para concluir, duas considerações.

A primeira tem a ver com a discussão em torno do ajuste fiscal. A situação atual é consequência do ajuste fiscal proposto no novo mandato da presidente Dilma Rousseff ou dos problemas anteriores a ele?

Embora não haja consenso a respeito, alinho-me claramente àqueles que apostam no segundo caso. A meu juízo, o ajuste fiscal é um mal necessário e inadiável, exatamente por causa dos erros grosseiros da política econômica praticada no primeiro mandato da presidente da República, que se agravaram em 2013 e 2014 por razões eleitoreiras.

O problema, como salienta o editorial de O Estado de S. Paulo em sua edição do dia 26 de junho, é que “no atoleiro da crise, a economia afunda e puxa para baixo a arrecadação de impostos e contribuições, tornando mais difícil, a cada dia, o ajuste das contas públicas”.

A segunda diz respeito ao bom desempenho do agronegócio, o que permite que o cenário existente em muitas cidades do interior de São Paulo – e possivelmente de outros estados – seja diferente do observado na capital paulista. Mesmo com o clima não sendo considerado muito favorável, o agronegócio registrou safras recordes em inúmeros produtos, permitindo que o Brasil, pelo menos nesse segmento, apareça bem nas fotos, sendo, em alguns casos, o principal player mundial.

Deixei o exemplo do agronegócio para o fim propositadamente. Afinal é uma forma de encerrar com algo positivo um artigo recheado de informações negativas.

Parabéns, pois, aos produtores agrícolas. E também à Embrapa, cujo trabalho é internacionalmente reconhecido como de excelência. Como já afirmei em outras ocasiões, o país seria outro de todas as suas empresas estatais tivessem desempenhos comparáveis ao da Embrapa.

 

Referências bibliográficas

A CRISE atinge o Tesouro. O Estado de S. Paulo, 26 de junho de 2015, p. A 3.

O PANORAMA visto por Delfim. Veja, 17 de junho de 2015, p. 33.

Referências webgráficas

MACHADO, Luiz Alberto. Comportamento dos agentes econômicos – O impacto dos índices de confiança. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/comportamento-dos-agentes-economicos/.