Interpretações do Brasil III

 

A corrente estruturalista

 

A industrialização tardia regida pelas leis do mercado

levou ao reforçamento das estruturas sociais existentes

em razão de sua fraca absorção de mão-de-obra e da

forte propensão a consumir das camadas modernizadas

da sociedade. O subdesenvolvimento, por conseguinte, é

uma conformação estrutural produzida pela forma como

se propagou o progresso tecnológico no plano internacional.

Essa visão global do processo histórico do capitalismo

industrial levou-me à conclusão de que a superação do

subdesenvolvimento não se daria ao impulso das

simples forças do mercado, exigindo um projeto político

apoiado na mobilização de recursos sociais, que permita

empreender um trabalho de reconstrução de certas estruturas.

Celso Furtado – “Brasil: a construção interrompida”

 

Foi a corrente de pensamento econômico que congregou os economistas que se opunham às políticas econômicas marcadamente monetaristas, amplamente predominantes durante a vigência do regime militar.

Preocupa-se em analisar a raiz dos problemas que envolvem uma sociedade. Serve-se, para isso, do instrumental de análise neoclássico (matematizado), aplicando-o às idéias sociais contidas na teoria marxista. O modelo de análise estruturalista defende a tese de que desajustes econômicos como inflação, endividamento etc., são provocados por problemas estruturais, constituindo-se, portanto, em conseqüências de problemas estruturais da nossa sociedade e são esses problemas que devem ser solucionados para que tais desajustes econômicos – que não passam de pontas de icebergs que afloram à superfície – possam ser eliminados. Esses problemas podem ser: crescimento em ritmo diferente dos diversos setores econômicos; má distribuição da renda; disparidades regionais; deficiente alocação das terras; baixo nível educacional etc… Suas propostas, pela abrangência, buscam resultados a médio/longo prazos.

No Dicionário de economia do século XXI, o Prof. Paulo Sandroni assim se refere ao estruturalismo:

Corrente de pensamento econômico latino-americana inspirada nos trabalhos dos componentes da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), que analisava o desenvolvimento econômico do ponto de vista dos obstáculos estruturais que impediam um crescimento maior dessas economias. Na explicação do fenômeno inflacionário, os estruturalistas acreditavam que estruturas inadequadas como a agrária, por exemplo, tornavam inelástica a oferta de alimentos e matérias-primas, o que significava elevação de preços nos centros urbanos. A deterioração das relações de troca provocaria déficits comerciais e do balanço de pagamentos, obrigando tais países a desvalorizações cambiais constantes, sendo estas outro alimentador do processo inflacionário. As soluções propostas: para o primeiro caso, a reforma agrária; para o segundo, a transição de uma economia exportadora de matérias-primas para outra que vendesse ao exterior principalmente produtos manufaturados. O autor mais influente dessa escola de pensamento econômico é o argentino Raul Prebisch. Entre os brasileiros, o mais importante estruturalista é certamente Celso Furtado.

A UFRJ e a Unicamp foram os dois maiores centros de pesquisa e divulgação de suas idéias, e principais redutos dos seus nomes de maior destaque, entre os quais podem ser citados:

  • Maria da Conceição Tavares
  • Carlos Lessa
  • José Serra
  • Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
  • Luciano Coutinho
  • João Manuel Cardoso de Melo

 

 

 

Referências e indicações bibliográficas

BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Ensaios sobre o capitalismo no século XX. Seleção e organização de Frederico Mazzucchelli. São Paulo: Editora UNESP: Campinas, SP: UNICAMP, Instituto de Economia, 2004.

FURTADO, Celso. A economia latino-americana. Rio de Janeiro: Nacional, 1978.

______________ Teoria e política do desenvolvimento econômico. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

______________ Brasil: A construção interrompida. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.

 

Referências e indicações webgráficas

BARBOSA, Fernando de Holanda. A inflação brasileira no pós-guerra: monetarismo X estruturalismo. Disponível em http://epge.fgv.br/portal/pesquisa/producao/138.html.

BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Depois do estruturalismo, os desafios enfrentados pelo desenvolvimento brasileiro. Disponível em http://www.eaesp.fgvsp.br/Interna.aspx?Pagld=DLMJMMTJ&ID=222.

MACHADO, Luiz Alberto. Interpretações do Brasil I – O caráter patrimonialista. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/iscasbrasil/iscas/abre_isca.asp?cod=715.

______________ Interpretações do Brasil II – A teoria da dependência. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/iscasbrasil/iscas/abre_isca.asp?cod=814.

MEDEIROS, Rodrigo. Revisitando Prebisch (1901–1986): lições do estruturalismo latino-americano. Disponível em http://www.desempregozero.org.br/artigos/revisitando_prebisch.php.

MURTEIRA, Mário. Celso Furtado e o estruturalismo latino-americano. Disponível em http://mariomurteira.com/opin2.html.