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A percussão Pop de Guga Machado

03 de setembro de 2014, por Rafael Ferraz

Músico versátil e experiente, o percussionista Guga Machado é o novo entrevistado do site Batera. Autor de artigos já publicados por aqui entre notas de shows e lançamentos, o percussionista paulistano acompanha a carreira solo de Paulo Ricardo (RPM) e o artista Tiago Abravanel em sua recém-lançada turnê ‘Eclético’ – com releituras de Tim Maia a George Michael, músicas próprias e inéditas.
Nascido em 1983, Guga é pioneiro do uso do Hang Drum no Brasil – instrumento idiofônico criado na Suíça, o paulistano domina diversos instrumentos de percussão como o cajón, pandeiro, congas, bongô, derbak e outros. Já tocou com bandas e artistas do cenário rock, funk, pop, eletrônico, reggae e outros, a exemplo de Alaíde Costa, Paula Lima, Angra, Shaman, Noturnall, LanLan e com o músico Toquinho, no Central Park, em Nova York (EUA).
Guga lançou o primeiro disco autoral Mafagafo Jazz em 2012 e, baseado nesse álbum, firmou uma parceria com a coreógrafa Sueli Guerra da Cia da Ideia (RJ), e montou o espetáculo Batuque Contemporâneo (dança). O músico também tem como projeto pessoal, o ‘Live PA’, tocando percussão com bases de música eletrônica com os DJ’s e produtores Deeplick e Ramilson Maia.
De São Paulo para o mundo, em 2011 estreou em palcos internacionais com o cantor Thiago Pethit no Festival Musicas Del Sur, em Buenos Aires, Argentina. Também excursionou com Ricky Vallen na Europa, em Portugal (Brazilian Day), Inglaterra e Itália. Já no início de 2014 gravou o DVD em tributo à Vinicius de Moraes ‘Cabaret Vinicius’ com Paulo Ricardo e Toquinho.
Começou na percussão com 14 anos para tocar em um festival do colégio e logo teve aulas com Jorge Marciano, Biroska, Ivan Silva, Egimar Alves e Aluá Nascimento. Participando de workshops de músicos como Marcos Suzano, Simone Soul e Pedro Luís e a Parede, Guga tem influências de bandas como Nação Zumbi e outras de música latina, além dos percussionistas Giovanni Hidalgo, Pernel Saturnino, Trilok Gurtu, Sola Akingbola e Naná Vasconcelos.
Hoje, o músico Guga Machado segue na percussão com seu projeto Mafagafo Jazz, nos teatros com o Batuque Contemporâneo, nos shows de Paulo Ricardo e Tiago Abravanel, e seu projeto Maquinário Roots – ainda em processo de gravação.
Acompanhe o bate-papo com o percussionista e conheça mais um pouco de sua história, projetos e a agenda de shows:
Você já tocou com bandas e artistas da música pop, rock, funk, reggae, eletrônica, jazz etc., mas qual é o seu gosto, tem preferência por algum gênero? O que gosta e tem curtido escutar ultimamente?
Obviamente pela escolha da nossa profissão, o recomendado é ouvir de tudo e conhecer os mais diversos estilos de músicas possíveis. Eu me considero um percussionista de “pop”. Minhas maiores referências são do “pop” e do “groove”. Adoro tocar rock and roll! Quando se pode criar, fico feliz da vida!
Por estar tocando com o Paulo Ricardo há quase um ano, tenho escutado muito rock and roll para ter idéias de como colocar e como aplicar a percussão nesse trabalho, com o máximo de criatividade e fugindo da mesmice. Por isso tenho escutado muito Beatles, Rolling Stones, Red Hot Chili Peppers e os próprios discos do RPM antigos, que tem muita coisa legal! O “4 Coiotes” tem as percussões do Paulinho da Costa, é fantástico. Fora isso, tenho ouvido coisas bem diferentes, que curto ouvir no carro, no transito… Jamiroquai, Michael Jackson, Justin Timberlake e por aí vai…
Resuma como foi sua estrada até chegar aqui. 
Comecei aos 14 anos tocando triângulo na banda de rock de uns amigos. Acabei me apaixonando pela atmosfera do palco, do backstage. A energia da música me arrebatou. Não tenho músicos na família então fui atrás do que eu gostava meio que pesquisando. Por sorte, nessa época, minha mãe trabalhava com a prima do João Barone, e ela nos convidou para ir ao show dos Paralamas, da turnê “9 Luas!”, no Olympia. Dali em diante tive certeza do que eu queria para minha vida. E foi ali que vi o Eduardo Lyra tocando e resolvi que era aquilo que eu queria fazer pra sempre.
Comecei tendo bandas, depois acompanhei o cantor Carlos Navas, que foi fundamental na minha formação. Aprendi a ser profissional com ele, a chegar no horário, a ter disciplina, a tocar bossa nova… Foi uma escola! Depois fui aplicando tudo isso em outros trabalhos, dos mais diversos estilos. Toquei com bastante gente legal como Toquinho, Alaíde Costa, Filipe Catto, Thiago Pethit,  Paula Lima, Banda Moinho, Paulinho Boca de Cantor (Novos Baianos), Angra, Shaman, Noturnall, LanLan e os Elaines, Deborah Blando… Uma galera! E o legal é que cada trabalho é uma experiência totalmente diferente da outra.
Como surgiu a ideia do seu primeiro disco Mafagafo Jazz?
Eu nunca tive a pretensão de ter um disco solo. Comecei gravando algumas ideias que ainda nem tinham forma de música. Comecei a gostar do que estava gravando e fui chamando alguns amigos para complementarem essas idéias. Como não toco nenhum instrumento de harmonia, meus parceiros foram chegando e criando comigo. Quando vi, já tinha umas 3 músicas prontas, com músicos incríveis tocando comigo… aí foi fácil! Vi que dessa forma estava funcionando e fui convidando os músicos que tinham mais afinidade pessoal e musical comigo para participarem. Todos praticamente toparam e me ajudaram nessa empreitada. No fim das contas, o Mafagafo Jazz é o trabalho que mais me orgulho até hoje. Aprendi tanto com ele. Adoro o disco e ele me abriu tantas portas que não consigo nem enumerar aqui.
E quanto a parceria com a Sueli Guerra na criação do Batuque Contemporâneo?
Em abril de 2013, fiz o show de lançamento do Mafagafo no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro. Nessa época, eu andava muito com o elenco do “Tim Maia Vale Tudo, o Musical” que a Sueli era coreógrafa e o Reiner Tenente, diretor do meu show, um dos atores. A Sueli e o Pedro Lima, que é um cantor incrível que também fazia parte desse musical, foram ao meu show e quando ela ouviu o disco passou a usá-lo nas suas aulas de ballet contemporâneo. Dias depois nos encontramos por acaso no Teatro e ela veio me convidar para montarmos um espetáculo juntos. O engraçado é que enquanto eu gravava o disco, fui assistir o filme da Pina Bausch no cinema e me identifiquei demais com a trilha. Achei que tinha tudo a ver com o que eu estava fazendo. Então, quando a Sueli me propôs o convite, aceitei na hora porque já tinha essa ideia mas não conhecia ninguém que pudesse viabilizar comigo. Por sorte veio uma das melhores coreógrafas do Brasil me convidar! Depois, foi só alegria!
Live PA = percussão + música eletrônica. Mas qual linha você segue na levada de percussão na hora de tocar ao vivo? Que instrumentos usa? 
No Live acabo usando um set up mais tradicional, com congas, bongô, djembê, timbales…. A música eletrônica, costumo dizer, é uma pegadinha! Parece que é fácil de tocar, mas é dificílimo. Aquela história onde menos é mais se aplica com força no eletrônico. O lance é bolar loops criativos e meter a mão! As viradas são bem importantes também…E é fundamental ter habilidade para tocar com metrônomo. Procuro aplicar levadas latinas, africanas, brasileiras, dependendo do que a música pede. Uso muito levadas e claves do Guaguancó, do Tumbau, do Samba. O importante é entrar na música de uma forma natural.
Para conhecer tantos tipos de instrumentos de outras culturas e se aventurar em diferentes gêneros musicais, um músico precisa conhecer bastante coisa fora do Brasil. No seu caso, como é esse processo?
Hoje em dia a internet nos proporciona tudo! O que você quiser encontrar de música no YouTube você encontra. Só não pode ser preguiçoso. Eu fico madrugadas e madrugadas pesquisando percussões étnicas, percussionistas de fora, daqui, como tocam, o que tocam, que técnica usam. O segredo de tudo é a pesquisa!
Conheci o Hang Drum alguns anos atrás pela internet. Hoje é meu instrumento preferido, meu xodó. Sobre ele mesmo, fico vendo vídeos sem fim de músicos incríveis que nem são tão conhecidos e são geniais. Posso te citar aqui alguns deles: Manu Delago, Daniel Waples, Dante Bucci…
Para você, a percussão brasileira é pouco ou bem valorizada aqui dentro do país?
Essa pergunta é difícil de responder porque sempre vivi aqui, não tenho a referência de como é lá fora. Uma coisa é você fazer uma turnê internacional e conhecer os lugares. Outra coisa é viver, morar, trabalhar dia a dia. Talvez eu seja leviano ao responder essa questão. O que posso dizer é que a percussão é infinita aqui no Brasil. Tem MUITA gente boa tocando por aí e nem sempre terão trabalhos excelentes para todo mundo. Somos riquíssimos de idéias, de levadas, de influências. As vezes vou tocar na Bahia e fico impressionado com aqueles meninos de 6, 7 anos lascando a mão num timbau no meio do Pelourinho, saca? É de arrepiar!
Para o Guga experimentalista, Trilok Gurtu ou Naná Vasconcelos? Por que?
Os dois! Cada um na sua! Sou fanzasso dos dois!
Além das notícias onde aparece seu nome, você já colaborou no Batera com artigos e uma recente entrevista sobre o show Cabaret Vinicius. Dessa vez, fale do seu trabalho como artista solo. 
Já falei um pouquinho lá em cima sobre o Mafagafo e sobre o Batuque Contemporâneo que são meus dois trabalhos como “artista solo”. O Mafagafo Jazz é o nome do disco. O show do Mafagafo é um show delicioso de se fazer. Como não sou um percussionista de solos, muitas notas, velocidade e esse tipo de coisa, mostro no show um outro lado, mais pop, com a percussão mais inserida no contexto do som, e não naquele primeiro plano com tanta ênfase no batuque. O Reiner Tenente (diretor do show) teve uma ideia genial de contar a história da minha vida durante o show, com cenas, imagens, projeções e códigos. Acabou ficando um espetáculo diferente do que se espera de um show de percussão e esse é o lance mais legal!
O Batuque Contemporâneo é um espetáculo de dança contemporânea com coreografia da Sueli Guerra e com Direção Musical minha. Eu também danço e as bailarinas tocam durante o show. Em cena somos em 7 pessoas (4 bailarinas, 2 bailarinos e eu). Na parte musical, toco alguns temas ao vivo, sozinho, e algumas coisas uso base e toco em cima.
 
Nos seus artigos publicados no Batera, você fala de cajon, percuteria e do hang drum. Explique um pouco da essência de cada um e, principalmente, como você costuma usá-los em seus experimentos e apresentações.
                                                       
O cajón está quase sempre presente nas percuterias que monto, que também variam conforme os trabalhos. Não tenho um Set up fixo. Vario de acordo com o trabalho. Hoje em dia, tocando com o Paulo Ricardo e com o Tiago Abravanel, uso set’s completamente diferente nos dois. Com o Paulo Ricardo, que o show é bem Rock and Roll, uso Alfaia, caixa, djembêm, berimbau, uma série de latas que uso para montar uns loops, um Hpd 15 da Roland e muitos efeitos de mão. Já no Tiago Abravanel, que o show é mais pop e mais “Eclético” uso um set mais tradicional, com congas, bongô, timbales, timbau, Hpd 15, pandeiros, efeitos… O lance para se fazer um trabalho bem feito é fazer o que a música pede, jogar pro time.
O Hang Drum eu já uso mais nos meus trabalhos solo. Ele é o carro chefe do Batuque Contemporâneo e do show do Mafagafo Jazz. Meu Hang é em Fa menor, o que limita um pouquinho algumas possibilidades mas já estou adquirindo outro para abrir um pouquinho o leque de opções.
Fale dos trabalhos e projetos atuais, das parcerias e planos futuros. 
Além de seguir viajando com o Paulo Ricardo e com Tiago Abravanel, sigo fazendo o show do Mafagafo e o Batuque. Mês passado fui para Nova York fazer um show com o Toquinho no Central Park e foi incrível. Estou gravando meu próximo disco, dessa vez não solo, mas em parceria com meu brother Renato Galozzi. O Projeto se chama “Maquinário Roots”. A ideia é fazer parcerias com vários artistas próximos a nós e que admiramos. Já temos algumas coisas prontas. A primeira faixa tem participação do Emerson Villani e do Ceruto (Funk Como le Gusta). Cada faixa do disco terá um convidado. Eu e Renato fazemos as músicas, e mandamos para nosso convidado que faz a letra e põe a voz. Já temos vários convidados incríveis no projeto mas ainda vou guardar essa surpresa pro nosso próximo papo. (risos)
Muito obrigado pela oportunidade e pelo papo. É sempre um prazer contribuir para esse site top que é o Batera! Muita luz!
SETEMBRO:
Dia 5 – Paulo Ricardo, Palmas (TO)
Dia 6 – Paulo Ricardo, Gurupi (TO)
Dia 14 – Tiago Abravanel ao vivo no Programa do Faustão – Rede Globo (RJ)
Dia 19 – Paulo Ricardo, Itacaré (BA)
Dia 20 – Paulo Ricardo, Rio de Janeiro (RJ)
Dia 27 – Tiago Abravanel, São Paulo Futebol Clube (SP)
Dia 28 – Batuque Contemporâneo, Rio de Janeiro (RJ)
OUTUBRO:
Dia 2 – Paulo Ricardo, Ribeirão Preto (SP)
Dia 3 – Tiago Abravanel no lançamento da Turnê “Eclético”, Vivo Rio (RJ)
Dia 10 – Tiago Abravanel, Belém (PA)
Dia 12 – Tiago Abravanel, Natal (RN) – a confirmar
Dia 18 – Tiago Abravanel, Campo Grande (MS)
Dia 31 – Tiago Abravanel, Brasília (DF)
NOVEMBRO:
Dia 1 – Tiago Abravanel, Goiânia (GO)
Dia 6 – Tiago Abravanel, Curitiba (PR)
Dia 7 – Tiago Abravanel, Porto Alegre (RS)
Dia 15 – Tiago Abravanel, HSBC São Paulo (SP)
Dia 21 – Tiago Abravanel, Belo Horizonte (MG)
Dia 27 – Tiago Abravanel, Clube Paulistano (SP)
Dia 28 – Tiago Abravanel, Ribeirão Preto (SP)
Guga Machado nas redes sociais – FacebookTwitterInstagram e no site oficial.

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