Março chega ao fim de forma preocupante

Notícias negativas superam com folga as positivas

“O rebaixamento, como o fundamentou a agência Standard & Poor’s em nota com duras críticas à política econômica do governo, tem tudo a ver com o atual cenário da economia do País.”

                       Jorge J. Okubaro

 O mês de março chega ao fim deixando um saldo preocupante para a economia brasileira. E, como não há forma de dissociar a economia da política, a preocupação se estende também a esta e, em especial aos políticos do governo.

 Nesse saldo negativo, a maior repercussão recaiu sobre o rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), tida como uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo – as outras duas são a Fitch e a Moody’s.

A título de ilustração, vale recordar que a S&P concedeu o grau de investimento (investment grade) ao Brasil em abril de 2008, quando o País foi alçado da condição de grau de especulação com a nota BB+ para a de grau de investimento com a nota BBB-. Em 2011, ocorreu nova promoção e a nota subiu para BBB. Agora, com a redução da nota, o Brasil volta a ser BBB-, sem, contudo, perder a condição de grau de investimento.

 Num país em que a grande maioria das pessoas gosta de futebol, vale uma analogia. Obter a condição de grau de investimento equivale a estar na Série A do Campeonato Brasileiro. É lá que estão os clubes considerados de elite, razão pela qual são os que têm maior visibilidade, valorização de sua imagem, exposição de seus jogadores à mídia e mais chance de obter bons patrocinadores e de realizar bons negócios. Porém, como sabem os entendidos, nem todos os clubes que participam da Série A são do mesmo nível. Existem os clubes que entram habitualmente nos campeonatos como favoritos para disputar o título, os que sonham com uma vaga na Copa Libertadores, os que se contentam com uma classificação para a Copa Sul-americana e os que só se preocupam em não serem rebaixados para a Série B.

 No caso da S&P é muito parecido. É possível estar na Série A em duas situações: os países com as notas AAA, AA+, AA, AA-, A+, A, e A- são considerados “grau de investimento com qualidade alta e baixo risco”; já os países com notas BBB+, BBB e BBB- são considerados “grau de investimento com qualidade média”. Abaixo disso, os países deixam de ser considerados detentores de grau de investimento. Podem, então, estar na “categoria de especulação, com baixa classificação, com as notas BB+, BB, BB-, B+, B e B-, o que de certa forma equivaleria a estar na Série B, ou ainda serem considerados “risco alto de inadimplência e baixo interesse”, com as notas CCC, CC, C e D, o que equivaleria à Série C.

Portanto, a redução da nota do Brasil não significa um rebaixamento para a Série B. Na analogia com o futebol, eu diria que saímos da situação de clubes que se contentam com uma vaga para a Copa Sul-americana e passamos a figurar entre aqueles que lutam para não cair. Afinal, é bom que se frise, jamais estivemos entre os que entram no campeonato como favoritos ao título ou como aqueles que sonham pelo menos com a Libertadores.

E por que jamais chegamos a essa situação?

Pelo fato de apresentarmos uma série de debilidades que nos colocam em situação de inferioridade na comparação com países mais desenvolvidos, que apresentam menor grau de desigualdade, infraestrutura física mais sólida e arcabouço institucional mais consistente.

No comunicado divulgado, a S&P justificou o rebaixamento do rating por uma combinação de fatores, entre os quais “derrapagem orçamentária, perspectiva de crescimento moderado nos próximos anos, baixo volume de investimentos e algum enfraquecimento das contas externas do país”.

 Evidentemente, o rebaixamento do rating não foi bem recebido por integrantes do governo e por diversos de seus simpatizantes, que alegaram incoerência na análise, uso de critérios diferentes no exame da situação de diferentes países e até falta de credibilidade da S&P, assim como das outras agências de classificação de risco, que, afinal, não foram capazes de prever a crise financeira de 2008.

 Particularmente, entendo a redução da nota e consequente rebaixamento do rating mais como um sinal de advertência do que qualquer outra coisa. Também por questão de coerência, pois acredito que quem põe em dúvida a credibilidade de uma instituição ao receber uma avaliação desfavorável deferia tê-lo feito também quando recebeu uma avaliação positiva, e não me lembro de qualquer questionamento à S&P quando alçou o Brasil à categoria de grau de investimento.

Além disso, tenho me referido sistematicamente às fragilidades recentes da economia brasileira, e não apenas às apontadas pela S&P, de tal forma que o rebaixamento não se constituiu em surpresa para mim – e para muitos analistas da nossa economia.

 Para encerrar, gostaria de lembrar que o rebaixamento de rating pela S&P não foi o único fato negativo do período. Outros deram também sua dose de contribuição para isso, com destaque para o noticiário envolvendo o péssimo desempenho da Petrobras, evidenciado não apenas pela desastrada compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, mas também pelo nebuloso acordo entre os presidentes Lula e Hugo Chávez para a construção da refinaria Abreu Lima em Pernambuco.

 Diante disso, não é de causar surpresa a queda na avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff na mais recente pesquisa CNI/Ibope de 43% para 36%.

 Ou será que o resultado desfavorável da pesquisa, a exemplo do que ocorreu com a S&P, também é consequência da falta de credibilidade das instituições responsáveis?

 Recomendações e indicações bibliográficas

 AGÊNCIA de classificação de risco S&P rebaixa nota de crédito do Brasil. Folha de S. Paulo, 24 de março de 2014.

 OKUBARO, Jorge J. O governo alcança o descrédito que parece buscar. O Estado de S. Paulo, 31 de março de 2014, p. B 2.

 Recomendações e indicações webgráficas

GUARDA, Adriana. Refinaria Abreu e Lima: uma conta que não fecha. Jornal do Commercio, 23 de março de 2014. Disponível em http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/pernambuco/noticia/2014/03/23/refinaria-abreu-e-lima-uma-conta-que-nao-fecha-122345.php.

 MACHADO, Luiz Alberto. Primeira divisão – Notícia auspiciosa. Disponível em http://www.cofecon.org.br/noticias/colunistas/luiz-machado/1361-primeira-divisao.

 STANDRAD & POOR’S rebaixa nota de crédito do Brasil para BBB-. Zero Hora. Disponível em http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2014/03/standard-poor-s-rebaixa-nota-de-credito–do-brasil-para-bbb-445219.html.

 TCU investiga obra de refinaria da Petrobras em Pernambuco. Jornal Nacional. Disponível em http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/03/tcu-investiga-obra-de-refinaria-da-petrobras-em-pernambuco.html.